UM PONTÍFICE REVOLUCIONÁRIO
BENTO XVI FOI AO MESMO TEMPO O MAIS SÁBIO E CULTO DE TODOS OS PONTÍFICES ROMANOS E O MAIS HUMILDE. HUMILDADE QUE DEMONSTRA REALMENTE QUE SE TRATOU DE UM HOMEM DOTADO DE PROFUNDA SABEDORIA.
Em apenas oito anos, o papa Bento XVI renovou a
Igreja
Roma, 28 de
Fevereiro de 2013
Desde a sua eleição, Bento XVI foi retratado como
um severo guardião da ortodoxia, um ancião rígido, conservador da estrutura. Na
realidade, em seus oito anos de pontificado, ele realizou uma obra de
renovação, reforma e refundação da Igreja que chega a ser revolucionária.
Ratzinger ainda não era papa quando, na meditação
da nona estação da via crúcis de 2005, disse: "O que pode nos dizer a
terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Talvez ela nos faça pensar na queda
do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, na deriva, à mercê de um
secularismo sem Deus".
Não era uma reflexão fora do tempo. Ele salientou:
"Não devemos pensar, também, no quanto Cristo tem que sofrer dentro da sua
própria Igreja?".
"Quantas vezes se abusa do Santíssimo
Sacramento da sua presença! Em que vazio de corações ele tem que entrar tantas
vezes! Quantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem perceber a presença
dele! Quantas vezes sua Palavra é distorcida e mal empregada!".
"Que pouca fé existe em tantas teorias,
quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, inclusive entre aqueles
que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a ele! Quanto orgulho,
quanta autossuficiência! Que pouco respeito nós temos pelo sacramento da
reconciliação, onde ele nos espera para nos levantar sempre que caímos!".
"Tudo isto está presente na sua paixão. A
traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue, isto é
certamente o maior sofrimento do Redentor, aquele que lhe atravessa o coração!
Não nos resta mais que clamar, do fundo do coração: Kyrie eleison - Senhor,
salvai-nos! (cf. Mt 8,25)".
A coragem e a força destas palavras convenceram os
cardeais e o Espírito Santo a tal ponto que o cardeal Joseph Ratzinger foi
eleito papa com o nome de Bento XVI.
Ele rejeitou imediatamente a tentação de um pontificado de transição, que
servisse apenas para evitar o naufrágio da barca de Pedro nas dificuldades
externas e internas que cresciam.
Apesar da fragilidade de saúde e do peso dos anos,
ele aceitou com alegria e fé o desafio de renovar a igreja, empurrando-a para a
nova evangelização.
Ele sabia das dificuldades. Quando se apresentou na
janela da basílica de São Pedro, se disse "um humilde trabalhador na vinha
do Senhor".
Poucos compreenderam. O primeiro trabalho que se
faz na vinha é a poda. Como disse o núncio no Quirguistão e Tajiquistão, dom
Miguel Maury Buendía em entrevista à EWTN Notícias, Bento XVI "tem feito
uma limpeza do episcopado. Ele tem removido dois ou três bispos por mês em todo
o mundo, porque as dioceses deles eram uma bagunça, ou a disciplina deles era
um desastre".
"Os núncios locais iam até o bispo e diziam:
‘O Santo Padre pede, pelo bem da Igreja, que o senhor renuncie’. Quase todos os
bispos, quando o núncio chegava, reconheciam o desastre e concordavam em
renunciar. Houve dois ou três casos em que eles disseram que não; o papa,
então, simplesmente os removeu. E esta é uma mensagem para os bispos: façam o
mesmo na sua diocese".
É difícil essa tarefa da limpeza. Na homilia da sua
primeira missa como papa, Bento XVI pediu aos fiéis: "Não me deixem só,
rezem por mim, para que eu não fuja, com medo, diante dos lobos".
Estas palavras fortes nos voltaram à mente quando
soubemos que o mordomo do papa fotocopiava e roubava a correspondência privada
do pontífice, passando-a para pessoas que usavam as informações para criar
escândalo, divisões e medos.
Mas seria enganoso pensar no pontificado de Bento
XVI como mero trabalho de limpeza da Igreja, ainda que heróico.
Juntamente com a poda da árvore milenar da Igreja,
Bento XVI cuidou e regou as raízes e fez crescer os ramos e os brotos. Ele nos
deliciou com suas catequeses semanais e com seus livros e discursos. Falou com
coragem e sabedoria para os governos do mundo; tentou consertar os cismas com
as várias denominações cristãs, oferecendo soluções iluminadoras; apoiou os
leigos e os movimentos eclesiais, incentivou o clero e os religiosos, suscitou
vocações; foi incansável em recomendar a prática da confissão e da eucaristia;
empurrou toda a Igreja a se aprofundar no ano da fé, a fim de encontrar o
entusiasmo para a nova evangelização.
Ciente da gravidade do momento histórico e da
importância da Igreja católica para o mundo, Bento XVI se confiou à
misericórdia divina, assumindo o papel de papa emérito e abrindo espaço para um
conclave que elegerá um novo papa.
Agradecemos a Deus por tudo o que o nosso amado papa
Bento XVI fez pela Igreja e pela humanidade, e esperamos confiadamente pela
chegada do novo pontífice.
(28 de Fevereiro de 2013)
ANTONIO GASPARI
Disponível em: http://www.zenit.org/pt/articles/um-pontifice-revolucionario,
online aos 01/03/13, às 02:50h.
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