DEUS ESCOLHE OS SIMPLES
1º DE JANEIRO DE 2017
SOLENIDADE DE MARIA,
MÃE DE DEUS
SANTA MISSA NA IGREJA
DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, EM
URURAÍ, CAMPOS, RJ
HOMILIA DO PE. ALFREDO
ROSA BORGES
Caríssimos irmãos e irmãs, estamos começando um novo ano e,
como sempre, novas esperanças invadem nosso coração e nossa alma. Esperemos,
com firme confiança, que Deus nos dará novas forças para enfrentar as novas
lutas e que nos concederá novas vitórias. Queiramos ter também uma fé
robustecida, esclarecida, determinada, uma fé que fortaleça a nossa vontade.
Peçamos ao Senhor, pela intercessão de Maria, Mãe de Deus, que Ele nos dê uma
caridade consciente baseada na verdade da genuína fé da Igreja, uma caridade
enraizada nas estruturas sólidas do cristianismo autêntico que Cristo confiou à
sua Igreja para que ela o conserve e o transmita com fidelidade às futuras
gerações.
No dia primeiro de janeiro, a igreja celebra a Solenidade de
Maria, Mãe de Deus, a Maternidade divina de Maria, a Jovem de Nazaré, que foi
escolhida por Deus pra ser a Mãe do Salvador. Como já sabemos, as leituras da
liturgia de hoje nos falam da benção de Deus que deve ser conferida pelos
sacerdotes aos fiéis e derramada sobre o povo de Deus, sobre todos nós que
cremos em Cristo e no mistério do seu Natal naquelas condições tão diferentes e
até contrastantes com o nosso modo de pensar e de querer celebrar o divino
acontecimento. Veremos, em poucas palavras o significado dessa benção de Deus.
No Antigo Testamento, Deus encarregou Aarão e seus filhos de
conferir uma benção específica sobre o Seu povo; no Novo Testamento, Jesus
confere aos apóstolos e aos Sacerdotes o poder de conferir a benção aos fiéis e
aos objetos religiosos, que sempre é também uma benção para a pessoa que
utiliza o objeto abençoado. Depois da vinda de Cristo, a Igreja detém o poder
da benção. Antes de refletir sobre as leituras, quero apenas recordar algo a
respeito do tempo. Como estamos no início de um novo ano, é bom recordar que
ainda transcorrerão muitos séculos para a vinda do Senhor. Por isso, nossa disposição
deve ser a de viver e viver bem o ano e os tempos futuros que Deus, o Senhor do
tempo e da história, concederá à sua Igreja e à humanidade como um todo. É para
o futuro que devemos nos preparar para a missão que o Senhor exigirá, da igreja
e dos cristãos. Digo isso por causa das idéias em torno da questão dos últimos
tempos. Na carta aos Hebreus o autor bíblico fala dos tempos que são os últimos
no qual Deus falou-nos por seu Filho (Cf. Hb 1,2). Os Últimos Tempos são o
tempo da Igreja. Neste período da História da Salvação, a Palavra oficial de
Deus para a humanidade, foi proferida por Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de
Maria Santíssima e segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Sua Palavra é
conservada na Igreja e transmitida fielmente por ela. O tempo da Igreja durará
até à volta de Jesus no último dia; aqui, isto é, no tempo em que estamos, ela
é a encarregada de interpretar, sem erros, a Palavra de Deus contida na Bíblia
e na Tradição e propor aos fiéis para que creiam com segurança e sem medo de
estarem sendo enganados. O magistério da igreja é intérprete infalível do
depósito da revelação (Cf. CCE, n. 1008). É confiando que o Senhor não faltará
com sua assistência amorosa ao magistério da Igreja que queremos empenhar-nos
na busca de um maior conhecimento da doutrina de Cristo sempre com a esperança
de um futuro de maiores frutos na obra da evangelização; da primeira e da nova
evangelização, nós somos os instrumentos inadequados nas mãos do Deus
onipotente e eterno, mas que se fez menino nos braços de Maria Santíssima,
apontando-nos assim, o modo de caminhar neste mundo de crescente falta de fé,
isto é, apoiar-nos em Maria, abandonar-nos em seus braços e deixar-nos conduzir
por ela.
Vejamos, agora, o que nos fala o Senhor nas leituras de hoje.
“Fala a Aarão e a seus filhos” (Nm 6, 22-23.27). Deus confia
a sua Palavra a alguém da sua confiança, que deverá transmiti-la com
fidelidade; no caso da primeiro, livro dos Números, Moisés que deverá instruir
Aarão e seus filhos a respeito de como abençoar o povo. Podemos atualizar esta
palavra fazendo a comparação entre Moisés e o Papa. O Bispo de Roma é aquele a
quem Deus diz: Fala aos fiéis isso e isso! Por nossa vez, devemos crer na
palavra do Santo padre. Por que será que o Papa Francisco quis tomar a decisão
de dar a todos os Sacerdotes da Igreja a faculdade de absolver do Pecado de
aborto, criar a Jornada Mundial dos Pobres e introduzir o nome de são José em
todas as Orações Eucarísticas (Cf. Misericordia et Misera, nn. 12 e 21 e
Paternas vices)? Podemos afirmar com absoluta certeza, que é porque o Espírito
Santo comunicou-lhe este santo desejo. Ninguém é eleito Papa por mera vontade
humana ou devido à sua preparação intelectual; mas porque o Espírito Santo o
quer. Seguindo, portanto, as orientações do papa Francisco, não tenhamos medo
de, em 2017, envolver-nos com a fé católica, com a fé da Igreja; tal fé é a
razão da nossa esperança.
Na carta aos gálatas, o apóstolo São Paulo nos diz: “Quando
chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho” (Gl 4,4). E esta é a
primeira benção, Deus enviou-nos o Seu Filho para fazer-nos filhos adotivos seus.
Trata-se de uma maravilhosa benção e grandiosa herança deixada por Cristo,
somos filhos de Deus (Cf. Gl 4,5). A segunda maravilha ou benção é esta: Deus
enviou sobre nós o Espírito Santo que nos faz ver o Criador não como legislador
e juiz que pune os pecadores, mas como Pai amoroso, bondoso e cheio de ternura
que está sempre próximo de nós e sempre decidido a nos perdoar quando pecamos;
pelo Espírito, derramado sobre nós, podemos não só saber que Deus é Pai, mas
também, temos condições de senti-Lo assim, experimentá-Lo assim (Cf. Gl 4,6).
Como filhos de Deus, nossa herança é a bem-aventurança eterna ao lado do Filho,
Jesus Cristo (Cf. Gl 4,7). Conhecer a Deus como Pai sempre disposto a perdoar
os filhos pecadores e decidido a não castigá-los é a mais nobre e doce missão
do Espírito Santo que nos foi enviado direto do coração do Pai e do Filho como
de uma única fonte inesgotável de ardente amor que inflama os nossos corações e
nos faz perder o medo de travar uma intensa relação com aquele que nos deu o
ser, o estar e o existir neste mundo.
Talvez, num primeiro momento quando ouvimos falar coisas grandes sobre
Deus, sintamos algum medo; isso parece normal, porque segundo São Lucas, os
pastores sentiram muito ao ver a aparição do primeiro anjo. Depois, é a alegria
que invade o coração do crente e daqueles que devem ser testemunhas dos seus
mistérios de amor e misericórdia.
Passemos, agora, à uma pequena consideração sobre o Santo
Evangelho para concluir o pensamento que intentamos desenvolver com as poucas
palavras acima.
Se Deus enviou o Seu Filho a este mundo, nascido de uma
mulher, Maria, alguém teria que ser testemunha ocular do maravilhoso
acontecimento. Os escolhidos foram os simples pastores a quem o Anjo anunciou:
“Nasceu hoje para vós o Salvador que é Cristo Senhor” (Lc 2, 8-12). Tendo
ouvido este anúncio, “os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria
e José, e o recém nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16). Eles quiseram ver,
acreditar e testemunhar que Deus cumpriu a promessa de enviar ao mundo o seu
Filho como Salvador de todos. Por que Deus escolheu os pastores? Pergunta
alguém. Pergunto eu: se o Anjo tivesse anunciado a Herodes e sua corte, será que
eles acreditariam? A resposta está no Evangelho de Mateus 2, 1-16. Herodes e
sua corte não acreditaram por medo de perderem os seus postos ; não abriram as
portas a Cristo; não conseguiram deixar-se guiar nem pelas Escrituras, nem pela
natureza Criada. Reagiram de modo bem diferente dos pastores e dos magos. Não
conseguiram ver que “Cristo não tira nada e dá tudo” (Bento XVI). No entanto,
nós, hoje, podemos e devemos crer com tranquilidade a Partir da pregação de
Paulo na segunda leitura e do testemunho dos pastores que foram, antes dos Reis
magos, as testemunhas oculares do nascimento do Messias. Diz-nos Lucas:
“Tendo-O visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que
ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam” (Lc 2, 18).
Deus apresenta a sua misericórdia e plano de salvação ao mundo a partir das
pessoas simples e humildes. Não lança mão, em primeiro lugar, das coisas que
chamam a atenção de todos, mas se serve daquilo que parece não ter serventia. Certamente
do mesmo modo como os pastores não se imaginavam escolhidos por Deus; o mesmo
aconteceu com São Paulo, pode ser que você, meu caro irmão ou irmã que
participa conosco desta liturgia, se sinta indigno de ser o escolhido do Senhor
para dizer às pessoas o que Ele fez, as obras que realizou. Mas, pode ser que
Deus esteja a olhar exatamente para você e lhe dizendo: não tenha medo, como o
anjo disse aos pastores. Se houve grande empenho no início da pregação do
Evangelho por tornar este mistério conhecido no mundo, hoje, deve haver um
empenho muito maior daqueles que viram e ouviram e, por fim, creram , em falar
às pessoas, aos amigos, aos próximos e aos distanciados. Se observamos bem o
que se disse no Evangelho de hoje, vimos que os pastores falaram do menino a
Maria e a José que também ficaram maravilhados ao ouvi-los.
Coloquemo-nos todos à disposição daquele menino que nasceu
para nós, do que nos foi dado (Cf. Is 9,6) e peçamos ao Senhor que, assim como
fizeram os pastores, gente de coração simples e alma desinteressada dos bens do
mundo, sem nenhuma ambição humana, nos dê a graça de, ao falar de Cristo e da
Sua Igreja, toquemos os corações das pessoas, de modo que, quem nos ouvir,
fique maravilhado com o nosso testemunho (Cf. Lc 2,18). Confiemo-nos sempre à
santa mãe de Deus, Maria Santíssima. Amém.
Comentários
Postar um comentário